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Pouco mais da metade dos bebês nascidos anualmente no Brasil (55,4%) são de gravidez não planejada. Se consideradas as gravidas adolescentes esse percentual sobe para 65%, como apontam os resultados da pesquisa Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nascimento.
À primeira vista pode-se atribuir o fato à falta de uso de contraceptivo. Contudo, a última pesquisa do IBGE sobre saúde reprodutiva, com mulheres de 15 à 49 anos de idade, mostrou que 40,6% a pílula anticoncepcional, 22,9% usavam algum método contraceptivo definitivo como laqueadura e a vasectomia do parceiro, 20,4% a camisinha masculina, 9,8% anticoncepcional injetável, 4,4% usavam o DIU, e 1,8% usavam algum outro método como camisinha feminina, anel, adesivo, tabelinha ou coito interrompido.
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O perfil de uso do contraceptivo muda com a faixa etária. Mulheres mais novas, na faixa etária de 15 a 24 anos usam mais a pílula anticoncepcional, anticoncepcional injetável ou camisinha e, conforme avança a idade, os métodos preferidos passam a ser o DIU e a esterilização.
Quase 20%, ou seja, 8.1 milhões de mulheres no país não faziam uso de qualquer método contraceptivo por diferentes motivos: 47,3% declararam querer engravidar ou não se incomodarem caso engravidasse, 2,9% não usavam contraceptivo por motivos religiosos e 1,8% não sabiam como evitar a gravidez.
Se comparado a outros países desenvolvidos, o uso de anticoncepcional por 80% das brasileiras é um índice elevado. Então, como explicar os altos percentuais de gestação não planejada?
Há quem defenda que esse alto índice se deve à pequena parcela de mulheres que usam métodos altamente eficazes, tais como o DIU ou o implante hormonal, cujo uso não depende da memória da usuária, são os chamados Contraceptivos Reversíveis de Longa Ação – LARCS (sigla em inglês). Contudo, a explicação não parece ser simples ou estar focado em um único aspecto.
A escolha de um método contraceptivo depende de um planejamento cuidadoso, realizado preferencialmente nos serviços de atenção básica, onde a equipe de saúde tem um vínculo de confiança estabelecido com os usuários. Conhecem as condições de vida das pessoas e da comunidade e pode, com mais segurança, analisar com cada mulher/casal, a melhor opção de contraceptivo, levando em consideração os múltiplos fatores associados à escolha, como a adequação do método ao estilo de vida, às condições de saúde, à idade e a convergência com os aspectos socioculturais da mulher e/ou do casal.
A gravidez não planejada é considerada um problema de saúde pública no Brasil, o que
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significa dizer que é um evento conhecido pela comunidade científica, profissionais de saúde, porém, sem a resposta devida. É um evento de saúde que atinge parcela significativa ou grupo específico da população, para o qual se dispõe de tecnologias para promoção, prevenção, tratamento e recuperação, mas que permanece sem resolução por falta de ação efetiva por parte do poder público.
Cabe intensificar a implementação de políticas públicas orientadas para a melhoria da qualidade da assistência à saúde reprodutiva das mulheres na Atenção Básica.
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